Cuidados com a higienização das agulhas e conservação das vacinas evitam problemas como abcessos e garantem a imunização do rebanho.
Apesar de já fazer parte da rotina anual das fazendas, a vacinação do rebanho merece cuidado redobrado e uma equipe bem treinada, pois erros nesse procedimento podem levar a prejuízos financeiros. Uma aplicação mal feita pode causar abcessos purulentos e lesões nos animais. Com anos de experiência em treinamento na área de manejo sanitário, o instrutor do SENAR Minas e médico veterinário, José Soté da Silva, alerta que esse tipo de prejuízo só pode ser evitado com capacitação constante da mão de obra. “É preciso capacitar tanto para os cuidados básicos, como aplicação de vacinas, cuidado com bezerros e com vacas gestantes, quanto para procedimentos mais específicos de cada sistema pecuário.”, diz Silva.
A falta de planejamento é um dos erros mais comuns. “Muitos querem fazer tudo correndo, sem qualquer planejamento, e acabam comprometendo a eficácia da imunização. O aparecimento de edemas (abcessos) é um indicativo de que houve contaminação no local da aplicação em decorrência de problemas na agulha ou na contenção errada do animal. O problema é que os edemas só aparecem depois de 20 dias ou mais.”, explica. O correto neste caso seria vacina novamente o animal.
Ao planejar a vacinação, deve-se separar os animais por idade, para que os adultos não passem por cima dos mais jovens no brete, causando acidentes. Leve todos os equipamentos necessários para a vacinação e esterilização das agulhas. Para cada categoria animal também há um tamanho de agulha diferente, utilizar uma de tamanho inadequado pode provocar caroço. Elas devem ser trocadas a cada cinco ou dez animais vacinados e colocadas em um recipiente com detergente próprio a base de cloro ou iodo para serem desinfetadas antes de utilizadas novamente. Caso a agulha caia no chão, é melhor trocá-la por uma desinfetada. “Uma agulha é muito barata para colocar em risco a saúde do animal.”, alerta.
Para evitar que faltem doses para imunizar todos os animais, a quantidade de vacinas deve ser 5% acima da quantidade necessária. E reserve um local com sombra para colocar a caixa de isopor, que deve estar com gelo suficiente (no mínimo dois terços de seu volume em gelo) para manter as doses em temperatura entre 2 e 8 graus durante todo o tempo da vacinação. “Desde o momento da compra da vacina até ela ser aplicada, é preciso conservá-la nesta temperatura, ou seja, se o gelo derreter é preciso repô-lo. Em hipótese alguma a caixa pode ficar no sol porque a vacina perde suas propriedades em altas temperaturas. Se não forem utilizadas no mesmo dia devem ser armazenadas em geladeiras domésticas.”, explica Soté. Deve-se ainda manter a pistola dentro da caixa de isopor, quando não estiver em uso.
O processo de vacinação deve ser conduzido de uma maneira tranquila, sem estressar o animal, de preferência nos horários mais frescos do dia. O manejo de vacinação no equipamento de contenção leva o mesmo tempo que no brete coletivo, além de ser mais eficiente e barato. Segundo estudo do ETCO (Grupo de Estudos e Pesquisas em Etologia e Ecologia Animal), da Unesp/Jaboticabal, o tempo médio gasto para vacinação no tronco é menor que o gasto no brete (9,3 segundos contra 10,2 segundos por animal).
Outro erro comum é aplicar a agulha em locais não adequados como: Cupim, Picanha, Lombo e Acém. Segundo o Manual de Boas Práticas de Vacinação do Grupo ETCO. “A vacinação deve ser feita na tábua do pescoço, puxando a pele do pescoço e deixando o conjunto seringa e agulha em posição paralela ao corpo do animal. Introduza a agulha e injete a vacina. Sempre que possível, depois da retirada da agulha, faça leve massagem circular no local da aplicação. Devemos estar certos de que a agulha atravessou o couro, mas não atingiu o músculo. Caso atinja o músculo, retire a agulha e faça nova introdução.”, orienta o manual.
Segundo o instrutor do Senar, ao terminar a vacinação deve-se imediatamente fazer a limpeza e manutenção das seringas. “Desmonte a seringa, lave-a com detergente, seque-a e a deixa montada para a próxima vacinação. O óleo da vacina gruda na borracha da seringa e pode haver contaminação.”, explica Soté. As borrachas da seringa podem ressecar, por isso devem ser trocados a cada seis ou oito meses.
A vacinação mal realizada também pode resultar em uma série de respostas nos animais tais como: taquicardia, dificuldade na respiração, inflamações no local da aplicação da vacina, gerando abscessos (nódulos), danos teciduais, infecção local ou sistêmica, infecção congênita em vacas prenhas, reação de hipersensibilidade a vacina.
Fonte: Revista Senepol