Sombra no pasto é sinônimo de bovino mais pesado. Levantamentos feitos pela Embrapa Agrossilvipastoril em sistemas integrados Pecuária-Floresta apontaram que animais criados em pastos com boas áreas de sombreamento têm um ganho de peso maior em períodos secos e com sol. Em Mato Grosso, o número de arrobas por hectare produzidas no ano, em média, ficou 30% maior em sistema de ILPF e dez vezes acima do que a média de produção do estado, que é de quatro arrobas por hectare. O sistema de ILPF analisado manteve uma área de lavoura de soja e milho com braquiária por dois anos, seguidos por dois anos de pastagem com Brachiaria brizantha cv. Marandu, com linhas simples de eucalipto a cada 37 metros.
E mesmo para uma raça geneticamente adaptada para o calor, como o Senepol, a sombra favorece ainda mais o ganho de peso. “Resultados de campo apontam um ganho de peso de até um quilo e meio por dia a mais do Senepol em sistemas de ILPF. Esse é um ganho bastante acentuado, ou seja, um ganho de eficiência importante dentro da pecuária. O fato de o Senepol ter mais resistência ao calor contribuiu para este resultado. As outras raças precisam trabalhar nessa linha, identificando animais com essa característica”, explica o pesquisador Eduardo Assad, que trabalha na Embrapa com projetos na área de mudanças climáticas e seus impactos na agropecuária e é membro do comitê científico do Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas.
Como o clima da Terra está aumentando, Assad acredita que o Senepol é uma opção importante para a pecuária brasileira, que terá de continuar elevando a produção de carne nos próximos anos para atender à demanda mundial, mas sem aumentar as emissões dos gases de efeito estufa. “O Senepol é a primeira raça bovina no Brasil adaptada para esse calor mais acentuado que vem sendo verificado no País. Por isso, é importante ter essa genética difundida pelo País. Apesar de toda a polêmica envolvendo as mudanças climáticas, esta é uma realidade no planeta. No mundo, não se discute mais se existe ou não aquecimento, mas sim como resolver. E a integração é um dos sistemas mais eficientes em redução de efeito estufa”, assegura o pesquisador.
Dados que utilizaram como base informações da Rede ILPF, da Plataforma ABC e da Embrapa, apontam que a área de ILPF no Brasil é de 12,61 milhões de ha, com uma expansão de 5,83 milhões de hectares no período de 2010 a 2016. Esta expansão permitiu uma mitigação maior das emissões de gases de efeito estufa, atingindo um sequestro de 36,40 Mg CO2 eq, quase dobrando a meta proposta no Plano ABC que é de 18 a 22 milhões Mg CO2 eq.
Esses resultados são importantes, pois ajudam a quebrar um ciclo preocupante. O aumento dos gases de efeito estufa eleva a temperatura, que aumenta a demanda por água, cuja disponibilidade, reduzida por evapotranspiração (pois é dependente da temperatura), vai interferir diretamente na produtividade das culturas. Hoje, os setores que mais emitem CO2 são energia e transporte, respondendo por 70% das emissões. Já as emissões por desmatamento caíram significativamente e a integração está ajudando a sequestrar CO2.
Além desse enorme sequestro de carbono, o sistema ILPF permite um ganho de ambiência animal maior que em sistemas comuns. Ele pode ser implantado em qualquer região do País, utilizando plantas adaptadas da região. Segundo Assad, o sistema tem se apresentado mais rentável no Cerrado, na Amazônia e em parte do Sudeste. No Sul, em decorrência do alto custo do preço da terra, o produtor deve avaliar com mais cuidado se é rentável. “Estamos há 30 anos pesquisando e defendendo os sistemas integrados no País, que passaram a ser mais usados a partir de 2010. Para minha surpresa, os pecuaristas estão aceitando bem o projeto. As novas gerações de produtores estão mais preocupadas com controle de custo, acompanhamento do desempenho do rebanho, uma gestão mais eficiente, e tudo isso favorece a adoção do sistema integrado”, informa Assad.
O conselho do pesquisador para os produtores brasileiros é simples: plantem árvores rapidamente, invistam em melhoramento genético, em boas práticas agrícolas, em sistema com floresta sempre que possível, e busquem raças mais eficientes dentro da atual realidade climática do planeta. “Para vencer as barreiras não tarifárias, o Brasil terá de buscar certificações ambientais, associando a produção agrícola e pecuária a serviços ambientais, seja na remoção de carbono, seja na conservação de água. Sob esse aspecto, com a adoção do sistema integrado e de uma genética melhoradora, as oportunidades para o Brasil são extraordinárias”, atesta Assad.
Integração Senepol/Agricultura
O produtor Darlon Port saiu do Paraná e foi cultivar grãos em Alexania/GO. Como tinha áreas não agricultáveis na Fazenda Terra Verde, decidiu implantar o sistema integrado Lavoura/Pecuária e a raça escolhida foi o Senepol. Como precisava de touros capazes de cobrir a campo a vacada Nelore alojada em uma fazenda no Tocantins, Darlon viu na adaptabilidade e rusticidade do Senepol uma opção mais lucrativa. Em 2010, passou a investir na formação de um rebanho puro para atender à demanda própria e, também, dos produtores da região.
A Terra Verde tem 80 hectares de pasto, com uma produção anual de 200 touros. O sistema integrado com lavouras de grãos está permitindo adotar uma taxa de lotação maior. Na seca, a propriedade colhe a soja e aproveita a palhada para alimentar o gado. “A integração melhora a sanidade do solo, favorecendo o desenvolvimento de uma forrageira de alta qualidade e, consequentemente, um maior ganho de peso dos animais”, explica Port. Atualmente, o capim utilizado é o panicum.
Para ele, a integração é a solução para o agronegócio brasileiro. “É um ganho muito importante não só para a pecuária e a agricultura, mas para o meio ambiente como um todo”, finaliza.