Boi cobrindo vaca zebuína à campo, em qualquer condição climática. Esta característica intrínseca da raça Senepol, fez com que este bovino de origem taurina adaptado aos trópicos fizesse a diferença nos programas estruturados de melhoramento genético, como ferramenta indispensável para a melhoria da produtividade que, associada ao manejo, nutrição e prevenção sanitária, levam a pecuária a níveis altamente competitivos possibilitando a tão desejada sustentabilidade econômica dos projetos e sistemas pecuários de corte.
Animais adaptados aos climas quentes até então nos acasalamentos entre taurinos e zebuínos para a formação de híbridos mais produtivos e com melhor conformação de carcaça, qualidade de carne e menor tempo de abate reduzindo-se o tão desejado ciclo de produção do nascimento do bezerro até o abate, só eram possíveis com o uso da inseminação artificial o que permitia ao produtor injetar em seu plantel bovinos de sangue taurino de origem européia e continental sem prejuízos de desempenho dos reprodutores devido ao aspecto essencial às condições brasileiras, o processo adaptativo da raça.
Inseminação artificial ganhava espaço pela possibilidade de acessibilidade a sêmen de touros de um a ampla variedade de raças.
O cruzamento industrial momentaneamente começava a passar por problemas:
Com o passar do tempo as dificuldades começaram a ficar maiores que os benefícios adquiridos com esta técnica. Primeiro a dificuldade de implementação da inseminação artificial em decorrência da qualidade da mão de obra operacional empregada nos rincões brasileiros, e em segundo o emprego de reprodutores de origem taurina européia sem a devida comprovação do grau de pureza sanguínea para a raça comercializados como tendo a mesma efetividade dos animais puros e cobrindo a campo sem ter a devida adaptação aos trópicos e rusticidade necessária para acompanhar nossa base nacional de vacas zebuínas.
Como não poderia ser diferente, a prática de cruzamento industrial, naquela realidade, passava a não mais se justificar pelos resultados inexpressivos na fazenda e no abate. Neste ponto deve ser esclarecido e enfatizado que o cruzamento com raças adaptadas para leite, não poderiam também ser classificadas como prática de cruzamento industrial, por razões óbvias.
Nesta realidade outra linha e segmentação de mercado reprodutivo que começou a surgir foi a produção de reprodutores compostos, ou seja, animais reprodutores oriundos de 2 a 4 raças contendo sangue zebuíno para capacitar a adaptação ao clima tropical e sangue taurino traduzindo assim também o ganho em eficiência produtiva com precocidade de acabamento das carcaças.
Os reprodutores compostos começaram no campo a ter resultados de grande variabilidade, ou seja em alguns projetos de melhoramento animal se obtinha resultados muito positivos e em outros muito desfavoráveis, isto porque como os compostos não se tratam de animais puros de origem o efeito de segregação gênica (variabilidade de fenótipo, mais conhecida como refugagem) passou a se tornar evidente, principalmente à partir do momento em que não se sabia o que fazer com as fêmeas F1, e no caso de machos, como manter a heterose entre as gerações.
Assim o cruzamento industrial no Brasil perdeu força, por um determinado espaço de tempo, mais por um adoção equivocada, oportunista e desfocada do seu fundamento primordial que é a adoção de raças de touros puros, para a máxima heterose, e que consigam acompanhar a vacada a campo.
A solução para os programas de cruzamento industrial começa a renascer:
Aí o Brasil descobre nos idos de 2000 o Senepol através de animais importados diretamente do Paraguai, outros diretamente dos Estados Unidos, após conhecerem no programa Montana os benefícios de cada raça pura para compor os melhores indivíduos compostos. Neste momento estudiosos e técnicos competentes descobrem os benefícios e as reis contribuições da raça pura Senepol para com os compostos, passando-se então a se utilizar touros puros Senepol diretamente na vacada geralmente zebuína ou nas filhas F1 oriundas de cruzamentos entre zebuínos com taurinos continentais o taurinos europeus.
Descobria-se um achado genético vivo, o Senepol, um animal 100% taurino naturalmente adaptado, pela sua origem natural de formação da raça, oriunda das ilhas caribenhas virgens, de clima tropical, advindo de sua formação do N Dama taurino milenar do Senegal, continente africano que cruzado com o altamente produtivo e precoce Red Poll, apesar de animal taurino dedicado aos climas temperados, com um processo fechado de cruzamento endogâmico de aproximadamente 100 anos, se forma então a raça Senepol em 1918. Animais extremamente resistentes a ectoparasitas e carrapatos, adaptado ao climas quentes e inóspitos, altamente dócil, mocho de natureza, produtivo, precoce com excelente conformação de carcaça e carne macia.
Tabela 1 – Características intrínsecas da raça Senepol onde seus benefícios trazem a necessária adequabilidade aos programas de cruzamento industrial a campo:
Senepol é uma forma eficiente e barata ao pecuarista que queira obter os benefícios do choque de sangue entre raças fazendo assim programas de cruzamento industrial a campo.
Atualmente o produtor volta a demonstrar interesse pelos programas de cruzamento a campo pela rapidez do retorno financeiro já que passou a conhecer a capacidade combinatória que o Senepol permite aplicar a outras raças nos diferentes esquemas de cruzamentos a nível prático e simples do campo, resolvendo assim os problemas que a técnica apresentara no passado.
A pureza racial dos patriarcas é que ditará o sucesso do emprego da técnica de cruzamento industrial, para a formação dos produtos base, o que já acontece muito eficientemente na avicultura e na suinocultura. Ter esta compreensão e portanto esta responsabilidade é fundamental para o sucesso ou não da técnica de cruzamento industrial.
Quanto maior a distância étnica original entre os grupos intercruzados, maior a heterose nos produtos (filhos), expressa como vigor, crescimento, resistência e fertilidade. Perceba na figura que o posicionamento genético do Senepol muito se distancia dos bovinos bos indicus, além de ser uma excelente opção também para programas de cruzamento onde se utilizam outros bos taurus por ter origem milenar em suas bases de origem de formação racial.
Origem étnica dos bovinos da raça Senepol desde o ancestral bovino comum
Tipos de Cruzamento:
1) Rotacionado = uso de apenas duas raças, segurando as fêmeas para reprodução, sendo estas acasaladas com animais da raça da mãe ou do pai (retrocruzamento).
Foto 3 = esquema de acasalamento Senepol x fêmea Nelore onde as filhas são novamente acasaladas com pai Senepol (aproveitar parte do esquema do cruzamento por absorção da raça senepol)
2) Terminal = cruzamento entre duas raças, onde todos os produtos são destinados ao abate.
3) Rotacionado – Terminal = usa-se duas raças para produzir o F1, e cruza-se as fêmeas F1 com uma terceira raça , onde os produtos, machos e fêmeas são destinados ao abate.
Quando se faz referência a raças para programas de cruzamento industrial usa-se muito a palavra precocidade, que deve se entendida, como velocidade com que o bovino atinge a maturidade sexual (puberdade), ocasião esta em que o animal completa o desenvolvimento ósseo e a maior parte da musculatura já se encontra desenvolvida. A idade ou a rapidez com que os bovinos atingem a puberdade esta diretamente associado à “ precocidade de terminação” , ou seja quando os animais atingem a quantidade de gordura adequada na carcaça para o abate em idade jovem.
Benefício científico do cruzamento industrial:
O cruzamento é um dos recursos do melhoramento animal, em que animais de mesma espécie, mas de diferentes raças, quando acasalados obtém o fenômeno da heterose e complementariedade genética levando seus filhos a produzir pelo menos de 20 a 30% mais que os pais originários.
Este fenômeno genético denominado heterose ou vigor híbrido, é decorrente da ação combinatória dos genes de um determinado lócus que se expressam de maneira mais evidente nos seus filhos, em várias características de importância econômica, particularmente nas de baixa herdabilidade.
O cruzamento industrial é válido para todos os animais de corte (aves, suínos, ovinos e bovinos). Não existe mais raça ideal, existe produção e produto em que cada raça tem contribuições maiores ou menores com o objetivo determinado para cada programa de melhoramento genético em que se queira reduzir tempo de abate, de forma eficiente e econômica, com carcaças diferenciadas nas condições de campo do Brasil.
As raças são muitas, com algumas ganhando destaque, mas nenhuma raça no mundo supera os resultados do cruzamento industrial. Quando tudo na produção vai bem, os diferenciais entre raças se anulam, mas quando as coisas estão mais próximas da realidade de campo do pecuarista, com a existência de variáveis que tornam mais complexas o total desempenho das raças taurinas acostumadas aos climas temperados, e mais amenos, a raça Senepol passa a ter especial contribuição por estabilizar qualquer programa ao imprimir a heterose original dos taurinos ao mesmo tempo em que transmite adaptabilidade, abrandando as características de pêlo comprido, stress calórico, padronizando a progênie.
Tabela 2 – Estudo comparativo de Peso à Desmama aos 7/8 meses de bezerros oriundos de diferentes cruzamentos
Fonte: Dados de campo adaptados da base de dados do projeto Agrocestalto – Mato Grosso do Sul. Cruzamento industrial a campo.
Nota-se na tabela acima, que todo cruzamento entre diferentes raças de reprodutores provoca um efeito aditivo (heterose) que faz com que seus filhos sejam melhores que os resultados de seus pais, em especial quando comparados com filhos oriundos de cruzamentos de uma única raça bovina. Em cruzamentos Taurinos com zebuínos qualquer raça que seja aplicada em fêmeas zebuínas, sempre será melhor que zebuíno com zebuíno, quando se verifica peso ao desmame e peso ao abate.
Na pecuária nacional, quando se esta em ciclo pecuário de alta, não se pode perder fêmeas para o abate, a não ser em processos de descarte programado da fazenda. As fêmeas F1 são excelentes mães, precoces, dão muito leite geralmente e tem a primeira cria aos 24 e 26 meses de idade, fornecendo 1 bezerro por fêmea por ano. Os filhos F2 deve ser verificado o tamanho do pêlo. Qualquer taurino puro colocado sob fêmeas F1 gerará progênie com muito pêlo, e nestes casos controlar carrapatos e stress calórico é quase inviável. A solução encontrada é o Senepol ou voltar Nelore nas fêmeas F1. Utilizando Senepol mantêm-se as características de produtividade e eficiência acima de 75% preservando ainda 25% de rusticidade, ao passo em que se volta o nelore preserva-se 75% de rusticidade com apenas 25% de produtividade e eficiência, onde nestes cruzamentos apenas 25% de rusticidade já bastariam.
Este fato permite que o Senepol de forma única, consiga como característica diferenciadora entre várias raças puras empregadas estabilizar qualquer programa de acasalamento com várias outras opções de raças. Caracteriza-se por frame médio o que lhe confere menor consumo de alimentos para maior transformação em carne e precocidade sexual e de acabamento de carcaça para o abate reduzindo o tempo necessário para estar finalizado. A principal causa de uma raça ser mais precoce que outra ocorre em função do frame à maturidade (idade adulta) que pode ser de grande, médio ou pequeno porte.
O Senepol veio de fato revolucionar o mercado pecuário ao equilibrar a produtividade oriunda dos Bos taurus europeus, com a adaptabilidade e rusticidade dos Bos taurus africanos, resolvendo assim os problemas de pelo, de refugagem (segregação gênica) obtida em filhos de acasalamentos em que se utilizam outros taurinos.
Figura 3 – Agregação de valor dos Bovinos da raça Senepol em programas de cruzamento industrial.
O touro muitas vezes é negligenciado no rebanho e sua contribuição no sistema de produção é subestimada, isto porque, apesar de representem de 4 a 6% do número total de animais da propriedade, os reprodutores são responsáveis pela metade do potencial genético do bezerro produzido no ano, considerando-se ainda que permanecerão em atividade reprodutiva por 10 a 12 anos, são peças estratégicas importantes ao pecuarista, que nunca devem ser negligenciadas.
Neste caso, o cuidado que o pecuarista deve ter é de saber que quanto mais puro os touros nos programas de cruzamento convencional ou industrial maior será sua confiabilidade, e melhores são os efeitos da heterose genética que passará aos filhos e filhas.
Senepol é uma forma eficiente e barata ao pecuarista que queira obter os benefícios do choque de sangue entre raças fazendo assim programas de cruzamento industrial a campo.
O pecuarista consciente e responsável em produzir eficientemente sempre deve exigir touros puros e com o devido registro emitido pela Associação Brasileira de Bovinos da Raça Senepol, que chancela a garantia de origem dos animais dentro desta raça.
Senepol é um animal adaptado ao clima tropical, muito fértil, e com alta libido, precoce e com excelente ganho de peso sem aumentar muito a altura de seus descendentes, pois mantém o porte médio, que o caracteriza por imprimir bom e precoce acabamento de carcaça a campo a partir de progênies de 16 a 18 arrobas de peso vivo.
Como as características reprodutivas são beneficiadas, um dos usos mais importantes do cruzamento em bovinocultura de corte é a produção de fêmeas cruzadas com Senepol PO, que são, sexualmente mais precoces e totalmente adaptadas aos climas tropicais brasileiros, sendo assim mais férteis, mais prolíficas e com melhor habilidade materna desmamando assim bezerros aos 7 e 8 meses de idade com 40 a 60% do peso corporal de sua mãe.
Em programas de acasalamento com taurinos F1 o Senepol resolve a equação do que se fazer com as fêmeas na medida em que equilibra a progênie por manter a produtividade da base taurina e imprimir pelo liso, rusticidade e adaptação necessárias a este grau sanguíneo.
A capacidade do pecuarista em se manter no mercado pecuário esta na proporção em que consegue absorver e perceber as mudanças que se encontram em sua volta, seja dentro ou fora de sua porteira, assim como oportunidades existem, a realidade de novas tecnologias de melhoramento genético animais também já estão consolidadas e os números estão disponíveis no mercado ou dentro do seu próprio negócio que permitam a análise da relação benefício/custo do uso de touros Senepol melhoradores nos planteis.
RESUMO:
Boi cobrindo vaca zebuína à campo, em qualquer condição climática. Esta característica intrínseca da raça Senepol, fez com que este bovino de origem taurina adaptado aos trópicos fizesse a diferença nos programas estruturados de melhoramento genético, como ferramenta indispensável para a melhoria da produtividade.
Entenda nesta matéria a origem dos problemas que passaram os programas de cruzamento industrial, que quase caíram em descrédito, mas tiveram solução eficiente que fez renascer ainda mais forte este conceito de melhoramento animal para se aumentar a eficiência da pecuária de corte nacional.
Conheça os tipos de cruzamento, os benefícios do cruzamento industrial e a aplicabilidade da raça Senepol nestes programas pelas suas características intrínsecas da raça e seus benefícios. Saiba o benefício do uso de reprodutores puros nestes programas, e entenda o porque a raça Senepol faz toda a diferença nos programas de cruzamento industrial a campo nos trópicos.
AUTOR DO ARTIGO:
Pedro Crosara Gustin
Médio Veterinário, especialista em produção animal, finanças empresariais e MBA em Marketing.