Nas últimas semanas, o registro de ataques de percevejo castanho nas pastagens do Brasil Central acentuou-se. Entretanto, não é de hoje que o pasto sofre com essa praga de solo. Áreas mal manejadas e solos, predominantemente, arenosos favorecem a propagação do inseto e o aparecimento dos danos decorrentes de sua ação.
A praga é de difícil controle, passa todo o ciclo no solo e pode aprofundar-se até dois metros, além disso, é polífago, se alimenta de inúmeras plantas. As espécies comumente encontradas nessa região são Scaptocoris castanea e Scaptocoris carvalhoi. A entomologista da Embrapa Fabrícia Zimermann Vilela Torres, em visita a áreas afetadas, comenta que os danos são expressivos, inclusive com morte do pasto. “Em alguns locais com ataque mais severo já se visualizam reboleiras infestadas com plantas daninhas, que surgiram após a morte do capim”, recorda-se Torres. Em situações assim, a única alternativa recomendada é o replantio (reforma completa da área).
As características do inseto o fazem ser, igualmente, difícil de estudar. A Embrapa Gado de Corte (Campo Grande-MS) conduziu estudos iniciais que envolvem a flutuação populacional, os aspectos bioecológicos e morfológicos e as interações em sistemas integrados na região do Cerrado. Até o momento, os trabalhos apontam que, aparentemente, em áreas bem manejadas e onde a correção e a adubação do solo são realizadas de forma frequente, as plantas estão nutridas e sentem menos os efeitos do ataque.
Outra observação é a presença do capim braquiarão (Brachiaria brizantha cv. Marandu) em muitos dos locais prejudicados. “Não se trata de problema com o capim em si, mas da forma como está manejado. Esse capim requer solos de média a alta fertilidade, logo, solos corrigidos e adubados proporcionam melhor desenvolvimento da cultivar. Com o capim já sofrido pelas condições inadequadas de solo e fertilidade, além da falta de chuvas e calor intenso, o percevejo é apenas um dos fatores que contribuem para a morte da pastagem”, aponta a pesquisadora.
Os estudos indicam também que a adoção de sistemas integrados (integração lavoura-pecuária e lavoura-pecuária-floresta), onde é viável, pode ser uma alternativa, pois tais sistemas exigem cuidados com o solo devido ao cultivo de plantas anuais (soja, milho etc). Assim a pastagem se beneficia tanto em relação à fertilidade do solo quanto ao residual de produtos químicos utilizados para o controle de outras pragas nas lavouras antecessoras.
A engenheira agrônoma comenta que há relatos que o capim-andropogon (Andropogon gayanus), bem como Panicum maximum cv. Massai, e a leguminosa Estilosantes sofrem menos danos, todavia não há respostas da pesquisa ainda para tais apostas. O que há é a recomendação de reforma da área, com correção e adubação; a escolha correta da cultivar para cada tipo de solo e condições edafoclimáticas; o manejo correto das pastagens e o uso de sistemas integrados, quando possível for.
Por fim, Torres alerta que o controle químico é difícil, porque não há inseticida registrado para o percevejo castanho em pastagens, e apenas produtos recomendados para seu controle em outras culturas como algodão, milho e soja. “De qualquer forma não é totalmente eficaz. Os inseticidas sistêmicos translocam para a parte aérea, deixando a raiz, onde essa praga ataca, desprotegida. Ainda, se a aplicação for em épocas em que ele está mais profundo, não consegue chegar até ele”, ressalta. Como as áreas de pastagens são extensas, outra implicação é a inviabilidade econômica e ambiental do método.
Por anos, os estudos em pragas da pastagem na Embrapa tinham foco nas cigarrinhas, ainda sua maior praga. Recentemente, a equipe de entomologistas da Empresa percebeu a necessidade de incrementar as pesquisas acrescentando o percevejo castanho, mas a carência de especialistas com esse enfoque é um grande desafio, assim como o próprio percevejo castanho.
Fonte: Embrapa